O Pierrot, a Colombina e o Arlequim

Eu falarei do carnaval, mas compreenda que o carnaval é um sinônimo de vida inteira.

O seu amor, numa segunda de carnaval, te manda uma mensagem de boa noite. Diz que o dia foi puxado, que vai dormir, que não gosta dessas festas cheias de gente bêbada, mulheres oferecidas e caras que só saíram pra pegar geral. No meio da madrugada recebe uma mensagem de desculpas, de arrependimento e com muitas juras.
Você acredita que o problema é o carnaval?

O mal das pessoas que mentem é que, depois que a primeira mentira dá certo, um mar cheio de ondas de 9 metros arrasa tudo que tem em volta. Arrasa o que existe por dentro, arrasa um começo que era lindo, arrasa anos de história e a esperança de uma vida e de um felizes para sempre.

Você precisa decidir o que quer: um mar de mentiras ou um rio tranquilo de verdades. Eu prefiro a honestidade.

Não são os seus pedidos e palavras que vão fazer qualquer pessoa no mundo mudar ou decidir se vai ficar ou trocar uma certeza por centenas de talvez de um carnaval, de uma festa, de uma lista de pseudoamigos, de uma vida inteira. Não é uma festa que muda uma personalidade. É questão de caráter.

Não vai ser você que vai tirar o seu amor dessa vida de querer quantidade ao contrário da qualidade. Não é você que tem a missão de obrigar alguém a querer bem e por muito tempo, talvez pra sempre. Talvez o seu amor nunca mude.

Alguém que te troca por um carnaval, por noitadas, por muitas, popularidade e curtidas, não merece ter você por uma vida. Alguém que some, que não responde, desaparece e depois quer voltar, não merece credibilidade. Merece sentir saudades.

É como o Pierrot, que ama a Colombina, que ama o Arlequim, que ama Colombina, que não ama o Pierrot. E o Pierrot passa o carnaval e uma vida triste, pois só tem olhos para Colombina. Se você for Pierrot, quero te mostrar que existe uma vida linda, sem maquiagens, sem falsos amores, sem solidão em estar só.

E te explicar que a mudança é tarefa da maturidade. E é a mesma maturidade que vai trazer a tranquilidade e a certeza de que, se seu amor escolheu as muitas incertezas de um carnaval e te trouxe a certeza da solidão, ele não merece ser chamado de amor.
Espero que você não acredite mais que o problema é o carnaval…

Com muito amor, da dinda louca

Eu lembro como se fosse hoje. Eu chegando do trabalho, há uns anos atrás, minha mãe olha pra mim e diz:
– Chuta aí quem tá grávida.
Chutei até a mãe do Badanha, e não acertei. Então ela completou:
– A Joana.
Naquele momento, talvez nenhuma outra pessoa daquela família, nem mesmo os pais da criança, ficaram tão felizes quanto eu. Me sentei, meio que nem acreditando, com aquele sorriso idiota na cara, como se eu fosse alguma coisa como pai, mãe, irmã daquela criança que ia nascer. Eu sei lá. Mas eu estava tão feliz…
Meses depois, a minha vó apareceu lá em casa…
– A Joana tá grávida…
– Isso eu sei vó!
– … de gêmeos!

Silêncio…

Aquela altura do campeonato a família toda estava em estado de choque. Eu também fiquei. Mas meio que inconsequente, comemorei internamente comigo mesma, #foreveralone, aquela coisa incrível que estava acontecendo na minha vida. Sim. Porque egoisticamente falando, era como se fossem meus. Desde a primeira frase que eu ouvi “a Joana tá grávida”, tomei aquela criança, que depois se tornaram aquelaS criançaS, pra mim. Desde o primeiro segundo pós-frase fatídica, eles já eram meus amores, meus afilhados de coração.

Depois de alguns meses, em uma manhã linda de domingo. Um domingo pré tchuca tradicional da família Martini, num churrasco na casa da vó, veio a conversa:
– Nai, tu já tem uma afilhada né?
– Tenho sim. A Rafa.
– Ok. Fica legal ter um casal de afilhados. Tu vai ser dinda do Lucas.
Ah. Sei lá o que eu pensei, o que eu senti. Demorei pra entender o que aquilo significava.
O tempo passou, depois de muito sofrimento, muitos sustos, muitas emoções, eles nasceram.
Lucas e Manuela.
Lembro da primeira vez que eu vi os dois.
A Manuela era uma boneca viva. Além de linda, dormia como um anjinho.
Agora, o Lucas… Era tão feio, magrinho e chorão.Quando eu vi o Lucas, pensei: ele recém nasceu, vai dar uma melhoradinha… Mas será que eu posso trocar de afilhado?

Na, mentira…

Mesmo feio, amei ele desde o primeiro dia. Assim como amei a Manuela.
E com o passar dos anos as coisas foram melhorando, se invertendo.
A Manu, daquele jeito independente, com aquela personalidade forte, cara de pau como todo o resto da família, comanda a festa. Linda e tem o poder de encher os ambientes de alegria e tensão, pois emoção é com ela mesma.
E o Lucas, daquele jeito polentão, manhoso, filhinho da mamãe, medroso e gordinho, guri briguento, veio pra bagunçar a nossa organização de primas meninas, colocando um pouco de grossura masculina em nosso meio.

Mas eles mudaram as nossas vidas de um jeito, que não consigo imaginar como seria a nossa vida sem eles. Não consigo imaginar como seria a minha vida sem aquela emoção de domingo, sem aquela loucura de Bruce correndo prum lado, Lucas chorando correndo pro outro, Manuela rindo da loucura da situação… Não consigo imaginar a minha vida sem aquele olhar sério do Lucas me olhando e pedindo “dinda, você é louca?”, ou esquecer o dia em que a Manuela disparou aqueles “eu ameeeei, ameeeeei” depois de ganhar um kit de maquiagem. Ou de quando eles resovem destruir o meu quarto e pular na minha cama.

Eu não sei como eles conseguem fazer isso com a gente. Mudam a nossa vida, mudam o ar do ambiente, mudam a organização dos móveis e objetos, mudam o nosso humor, mas mesmo assim tudo aquilo que existe dentro do nosso coração permanece igual: um amor enorme, sem fim, sem limites e cheio de orgulho.

Eu sou meio durona sim, admito. Mas posso dizer que as maiores conquistas da minha vida foram as minhas três joias: Rafaela, Manuela e Lucas. Talvez eu não seja uma dinda tão presente do mesmo jeito para os três, talvez eu não seja uma dinda ideal. Mas o orgulho que eu sinto desses três é tão grande, mas tão grande, que quando penso em como é bom tê-los na minha vida, meus olhos se enchem de lágrimas bobas.

E hoje, 10 de fevereiro, os meus gêmeos malucos fazem 4 anos? Nem sei mais. O que eu sei é que quero eles por perto pro resto da minha vida, independente do que se tornarem no futuro, independente das escolhas que fizerem, independente de qualquer laço sanguíneo que temos ou da idade que eles tiverem. Não quero medir o tempo, só quero a oportunidade de poder participar disso pra sempre, pois ver esses dois pingos de gente crescendo, evoluindo, não tem preço.

A dinda ama vocês.

Por um amanhã onde não se tenha tempo…

 

Eu peço por um amanhã onde todos os dias sejam o último dia das nossas vidas, e seja também o primeiro dia do resto dos nossos dias.

Por um amanhã onde as solicitações de amizade não aconteçam apenas no mundo virtual e que os convites para sair não tenham segundas e más intenções.

Que faça sentido todo o afastamento e toda a solidão. Que toda aproximação signifique um recomeço. Que se tenha coragem para ser radical, fazer o que se tem vontade e principalmente o que deve ser feito.

Que o amanhã seja de aventuras e de enfrentamento do medo. Que seja o início de um fim glorioso. Que nenhuma promessa seja feita, mas todos os desejos inconscientes sejam realizados e todos os planos postos em prática.

Que seja indolor, mas que não seja insípido, inodoro, incolor… Que seja de recordação, mas principalmente de novas memórias.

Que tenhamos menos vídeos, menos fotografias, menos frases de efeito, para que o real registro seja na memória e as belezas da vida sejam vistas sem filtros.

Que não se perca tempo, mas que se encontre a beleza existente em cada milésimo de segundo. Que até mesmo o comodismo seja inspiração. Que o 2×2 do quarto seja um mundo inteiro e o mundo inteiro pequeno demais.

Que tenhamos mais silêncios sábios e menos gritos e barulhos que não nos dizem nada. Que tenhamos mais tolerância e que o nosso dinheiro seja investido no que nos traz crescimento espiritual e não somente crescimento de massa muscular.

Que a contagem regressiva da mudança não aconteça em datas marcadas. Que as reuniões familiares não sejam apenas em torno de mesas recheadas de guloseimas que enchem apenas o estomago. Que os fogos de artifício não sejam os únicos a iluminarem o teu céu.

Que os olhos de todos se abram para a empatia, o amor ao próximo, seja ele vegetal, animal, mineral. Que nada de extraordinário precise acontecer para que todos se unam em função do próximo. Que a compaixão seja um sentimento diário.

Que seja prazeroso pagar as contas, os créditos e os débitos, em função de a dívida ter sido justa e correta. Que venham as reconciliações, os perdões e a justiça e que elas nunca mais sejam necessárias.

Por um amanhã em que qualquer momento possa ser o momento da virada. Onde o hoje seja uma festa de despedida do ontem e a comemoração antecipada do recomeço no amanhã.

Que textos bonitos e lógicos sejam postos em prática e não somente compartilhados, lidos, relidos e chorados… E é por isso que, numa última esperança, eu peço por um amanhã onde não se tenha tempo e nem motivos para escrever um texto sobre coisas que desejamos que sejam realizadas em 2016.

 

Naiára Martini

Amo você bem mais que futebol.

Eu quero que vocês, pessoas que me amam, escrevam cartas como essa pra mim.

Amo você bem mais que futebol

(ninguém vai escrever nada)
(e eu só escrevi esse parenteses acima pra obrigar alguém a sentir pena e escrever algo)
(e mesmo com essa explicação do segundo parenteses, ninguém vai escrever)

Brincadeiras a parte, a verdade é que, apesar de eu não ter filhos, sempre pensei que o amor mais sincero e mais bonito vem dos nossos pais. Sejam pais de sangue ou pais de coração, a única regra existencial que deveria existir nessa vida é a de que filhos nunca deveriam partir antes.

A dor de perder um filho certamente deve ser a maior dor do mundo.

Se você pudesse voltar dez anos atrás e dizer algo para si mesmo, o que você diria?

Não se preocupe tanto com o futuro, com o que fazer da vida, com que carreira seguir, com que roupa vestir ou qual será a próxima cor ou corte no seu cabelo. No fim das contas, nada sai como planejamos. E você nunca mudou a cor nem o corte do seu cabelo.

Sonhar ainda é de graça. Mas esteja preparada para quando estes sonhos não se realizarem e fique com os pés bem grudados no chão. Se você continuar como está, vai se decepcionar muito. Lá vai o tapa na cara: na verdade, você sempre sonha tanto, que mais vai quebrar a cara do que ficar feliz com os resultados. Faça um plano que cubra cirurgia plástica.
Treine-se a não criar expectativa. Aquela máxima famosa que diz que é melhor você se surpreender do que se decepcionar, é a maior verdade da humanidade depois da mentira. Para refletir…

Viva o agora e não guarde mágoa. Caso contrário, você terá uma crise de ansiedade, precisará se medicar, não conseguirá dormir por um tempo. Mas isso acontecerá porque você guardou tanto, mas tanto, que um dia você quase explodiu.

Não se apaixone por qualquer palavra bonita. Palavras são apenas palavras. São pequenas. Só tem realmente valor quando vem acompanhadas de atitudes. Atitudes são provas de amor. Poesia é arte. A propósito, escute mais a Cássia Eller.

Não julgue as pessoas pelas aparências ou pelo que dizem delas por aí. Tire as suas próprias conclusões. Passarão por sua vida pessoas incríveis, mas que talvez não sejam exemplos de com se vestir ou como cortar o cabelo e a barba.

E na parte do “tire suas próprias conclusões”, abasteça-as com um pouco, pelo menos a essência do que a sua mãe diz. Mesmo sem você contar a história toda, ela sempre acertou nos conselhos e nos palpites que deu. Lembre-se dos conselhos mais importantes: “não desanime, pois é errando que se aprende” e “vai devagar”.

Pare agora de ler esse texto se hoje for uma sexta a noite, um sábado ou um domingo. Vá pra sala e diga pro pai o quanto você o ama. Ele vai passar por problemas difíceis e vai precisar saber que apesar das brigas, você sente falta dele sempre. A propósito, vocês terão a oportunidade de se despedir pra nunca mais se ver. Vai ser difícil, ao mesmo passo que vai mudar a sua vida. Será o dia em que você descobrirá o significado da fé e conversará com Deus pela primeira vez. O dia em que você terá sua primeira segunda chance. Mas as coisas vão ficar bem.

Nunca, mas nunca se esqueça dos teus amigos. Nunca os troque por nada e nem por ninguém. Você terá algumas fases difíceis e descobrirá que os verdadeiros, um ou dois, estarão lá pra te ajudar. Amigos são os irmãos de coração que escolheram você pelo que você é sem obrigações. É o amor mais puro e verdadeiro, é o ódio mais puro e verdadeiro às vezes. Mas é o sentimento sempre mais sincero.

Você terá um, dois ou três amores da sua vida. Ok. Todos os caras que você conhecer serão amores da sua vida. E você vai sofrer, vai sofrer muito por essa característica que tem de achar que cada ser em si merece ser amado exatamente do jeito que é, pelas suas qualidades e principalmente pelos seus defeitos. Isso realmente me deixa orgulhosa de você. Mas como toda escolha tem consequências, você vai sofrer. Serão muitas noites de espera, de preocupação. Muitas noites sem dormir. E terão as noites de amor e carinho sinceros. Muitas noites em que os carinhos e amores sinceros serão apenas da sua parte. Ou da outra parte. E o caminho será sempre o da procura por algo que te complete. E sinto informar que hoje estou mais crente que o grande amor da sua vida, sou eu!

Você terá sim um emprego bacana. Mas essa história que você criou sobre grandes executivos, muito trabalho e felicidade no mesmo patamar, não existem. O que existe é muito trabalho e pouca vida social.

Para de pensar agora. Pensar é uma perda de tempo. Pensar faz você se afundar em mágoas, suposições, invenções da sua cabeça, mundos, pessoas, situações que não existem da maneira que você criou. Você é muito criativa na hora de criar o que nunca existiu. Pense menos. Faça mais.

Tenho péssimas notícias quanto ao que eu estou fazendo pra você hoje: escrever. Você passará por uma seca de muitos anos. Não conseguirá começar e terminar nada direito. Você voltará aos poucos e terá umas curtidas aí numa tal mídia social chamada Facebook, mas tenha paciência, que na pressão, ninguém faz nada direito e nem se conecta com o além. Ah. Por falar em escrever, você terá seu nome como revisão cultural na folha de rosto de um romance. Sua mãe ficará muito orgulhosa de você.

Algumas pessoas ficarão sabendo que o seu primeiro beijo foi com uma garota apenas quando você tiver seus 25 anos. E isso acontecerá através de um texto publicado num blog. Algumas pessoas, pois eu sei que não são todos que leem teus textos até o final. Você não é homossexual e infelizmente também não é bissexual. Porque, pensa: se fosse, o cardápio seria mais amplo. Ok. Foi um pensamento meio machista.

Tatua num lugar bem visível: nunca cometa o mesmo erro duas vezes. Esse conceito pode mudar a tua vida. Fazer-te sofrer menos.
Eu poderia escrever mais cinquenta páginas de recomendações, mas terminamos na Montanha Russa. Você sobe, desce, é jogado pra lá, pra cá, tem momentos de euforia, de medo, de expectativa e as mudanças são constantes. Montanha Russa também poderia ser chamada de vida. Quando você é o primeiro da fila, você sempre pensa em desistir. Respira fundo, ergue a cabeça, encara, vai em frente e lembra: tudo passa, tudo muda, como o passeio na Montanha Russa.

(Essa pergunta foi feita por Fred Elboni, do blog Entenda os Homens. Resolvi responder.)

Gostaria muito de ler a resposta de vocês a essa mesma pergunta aqui nos comentários: Se você pudesse voltar dez anos atrás e dizer algo para si mesmo, o que você diria?